Especializada em turismo educacional, a agência Espaço e Vida – Viagens Culturais planeja e realiza projetos pedagógicos extraclasse há 30 anos.
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Roteiros inteligentes, criativos e agradáveis proporcionam a crianças e adolescentes, da educação infantil ao ensino médio, o contato com diferentes lugares do Rio de Janeiro e de todo Brasil.
Nossa missão é ampliar os horizontes culturais e intelectuais por meio de experiências concretas, diretas e sensoriais antenadas aos conhecimentos da sala de aula. Aos pais, empresas e diversos tipos de associação a agência oferece roteiros adequados a cada perfil, incluindo passeios de integração e entretenimento.
Não era longo o caminho do alto do Corcovado até a foz na Baía de Guanabara, mas a missão que tinha o Carioca era nobre: abastecer de água potável os moradores do Rio e servir de matéria-prima para as lavadeiras que, com seus cantos cheios de vida, ajudavam a amenizar o trabalho duro ao longo de suas margens.
“Casa de Acari” ou “Casa de Carijó”, até hoje não se conhece ao certo o significado do nome inventado pelos índios. Não importa. O que vale é saber que “Carioca” passou a designar os habitantes de toda uma cidade.
Com o tempo, as águas do rio foram desviadas em direção ao Aqueduto da Carioca para dali alimentar as fontes e chafarizes do Rio Colonial. Destes, o mais importante ficava no Largo da Carioca. Assim como o largo, o Carioca que conhecemos resta completamente modificado. Poluído, degradado, corre hoje escondido sob o chão da metrópole e, a não ser em pequenos trechos como o do Largo do Boticário, já não pode mais ser visto cortando a cidade. Quem sabe sobreviva apenas para não nos deixar esquecer o que foi no passado.
Seus filhos e filhas estão convidados a participar da nossa viagem à Disney!
A Espaço e Vida, há mais de 25 anos, organiza viagens dentro e fora do Brasil, com participação de mais de 10.000 estudantes por ano. Temos como missão o compromisso de ampliar horizontes culturais e intelectuais a partir de experiências concretas e qualificadas.
Nosso projeto será desenvolvido em parceria com a a Kaluah Tour, operadora de Orlando líder no mercado turístico local, e ficará sob a coordenação do psicopedagogo Hudy Kenji, que já morou e trabalhou na Disney e leva grupos a Orlando há mais de 10 anos.
Além dos preços imbatíveis e da segurança e qualidade da agência, já conhecidas por vocês, só a Espaço e Vida tem hospedagem garantida no mais novo Resort da Universal Studios! Isso mesmo, nós ficaremos dentro do parque! Confira o roteiro detalhado em anexo!
Habitamos o coração da América do Sul, somos o povo de uma imensa nação tropical, em uma das periferias do mundo. Nós nos preparamos para cruzar o oceano. Vamos atrás de novas aventuras, no encalço do novo, de outros modos de ser e de estar. Temos sede de conhecimento e gostamos de aprender. Mas também temos muito a ensinar. A diferença não nos amedronta. A troca é o nosso negócio.
Nós somos do Brasil e o Velho Continente nos espera. Não demora muito e estaremos aterrissando em Portugal. Uma parte do que somos veio de lá. Lisboa, a cidade erguida sobre os escombros do passado, onde a cada passo nos deparamos com riquezas preservadas pelo delicado trabalho da memória. Relíquias da Idade Média, joias manuelinas, lembranças do período pombalino. Pode ser a Torre de Belém, o Castelo de São Jorge em sua colina elevada, o imponente Terreiro do Paço, herança dos tempos da Monarquia. Tudo isso e o Tejo como testemunha.
Na época dos descobrimentos, os portugueses viveram de singrar os oceanos fazendo disso um modo de vida. Eles se lançaram ao mar toureando à unha as fronteiras do desconhecido. Antes como agora o domínio dos mares esteve no centro das investigações científicas. Mas não só. A exploração do mundo natural e a experimentação expandiram os limites do conhecimento para níveis nunca dantes imaginados. Portugal acompanhou esse movimento sempre com vivo interesse. Lisboa é hoje um centro de ciência viva. Basta um pulo ao seu Oceanário, ao seu Pavilhão do Conhecimento ou ao seu Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas para termos uma prova disso.
E é com essa mesma devoção e amor pelo saber que nos despedimos de Lisboa com destino à Suíça. O que nos anima agora são os meandros da física, mas aproveitamos a estada em Genebra para visitar a sede da Organização das Nações Unidas. No concerto das nações, apostamos em um mundo melhor e mais justo. Que os homens que nos governam saibam fazer as escolhas corretas. E que a paz reine entre os povos. Para que possamos contemplar a beleza das artes e o florescer da ciência e da cultura.
O Universo é feito de partículas. Mas o que são partículas? Qual a sua origem? Podemos prever o seu comportamento? Quais os principais desafios da física contemporânea? No CERN, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, fica o maior acelerador de partículas do mundo – o Grande Colisor de Hádrons, mais conhecido pela sigla LHC. Ele é o “brinquedo” que os humanos inventaram para tentar recriar a explosão inaugural do Big Bang e assim desvendar a origem do Cosmos.
“O silêncio desses espaços infinitos me apavora”, exclamou Pascal no alvorecer da era moderna. De lá para cá, a ciência fez avanços notáveis, deu saltos inimagináveis, produziu teorias. Porém outros “espaços infinitos” brotaram dessas mesmas descobertas. O saber científico funciona assim. Uma coisa puxa a outra, uma ideia faz nascer novos questionamentos. O gênio de Einstein nos legou a Teoria da Relatividade. Outros descobriram o Bóson de Higgs. Será que estamos nos aproximando de Deus?
O conhecimento encerra mais perguntas do que respostas. Sua beleza mora nos silêncios que apavoram.
Grandioso e diverso Pantanal! Difícil saber onde começa e onde termina a vastidão de suas terras, quase sempre úmidas e indomáveis. É certo que se estendem pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e se espraiam até as fronteiras com a Bolívia e o Paraguai, onde é chamado de Chaco. Dentro dele cabem somados os territórios de Bélgica, Suíça, Portugal e Países Baixos – e ainda sobra espaço.
Há um pouco de Floresta Amazônica, de Cerrado, de Mata Atlântica e até de Caatinga no Pantanal. Tamanha diversidade faz da região um manancial inesgotável de plantas e animais, um paraíso de vida selvagem. Fauna e flora que parecem não ter fim. Um dia alguém resolveu contá-las e chegou a número impressionantes: 1.647 espécies de arbustos e árvores, 263 espécies de peixes, 122 espécies de mamíferos, 93 espécies de répteis, 1.132 espécies de borboletas, 656 espécies de aves.
A seca é a época ideal para se conhecer os animais. Com o refluir das águas, pequenos canais sinuosos formados durante as cheias penetram o ventre da mata vagarosamente. São os corixos. Um passeio de barco por suas águas ou pelo rio Cuiabá permite ver os bichos de perto – quem sabe um jacaré inofensivo e preguiçoso habitando suas margens, um ninho de tuiuiús e até mesmo uma jiboia ou uma sucuri. Na focagem noturna, há boas chances de nos depararmos com um iguana, com uma capivara ou com um grupo de lobos. E, se estivermos mesmo com sorte, até com uma onça-pintada, o maior felino brasileiro.
Sob o jugo das águas, a vida no Pantanal nunca é a mesma. Todo ano, ao sabor dos ciclos de chuva e de seca, a paisagem se transforma, os cursos dos rios ganham novas direções, alguns desaparecem, outros surgem ali na frente. Fenômeno parecido acomete as baías. As águas isolam as gentes, segregam os bichos, avançam sobre a vegetação. Para sobreviver, é preciso dominar a dinâmica da região. A vida ali não é tarefa fácil. Mas, adaptado a esse ambiente, o pantaneiro é um privilegiado. Pois não há nada de mais irresistível do que assistir ao colorido das flores do Pantanal na primavera, do que sentir o cheiro inconfundível de suas terras saturadas de chuva ou do que se deliciar com as águas de seus rios a refletir um céu azul-alaranjado num fim de tarde qualquer. No Pantanal, a natureza é mesmo soberana. E o homem pantaneiro, seu bem-aventurado espectador.
Isolada, irrelevante, empobrecida. Primeira vila interiorana do Brasil, São Paulo nasceu sem futuro, sem perspectivas. Foi justamente, porém, dessa solidão inaugural que buscou régua e compasso para moldar o seu destino. Rebelde e indomável, de São Paulo saíram os bandeirantes em busca de mão de obra (escrava, certamente) e dos metais preciosos nas minas do Brasil profundo. Eles expandiram as fronteiras e desbravaram os sertões mais longínquos, deixando atrás de si um rastro de guerras, violência, morte, cobiça e destruição – sobretudo dos índios.
No século XIX, o café trouxe a ferrovia, o progresso, a acumulação de riquezas. Imigrantes chegavam de todos os lados. A eletricidade revoluciona a paisagem. Surgem no início do XX os primeiros arranha-céus, que tão bem se ambientaram por lá. A mudança é súbita, repentina, tem a força de um tufão. São Paulo cresce, enriquece, dita o ritmo da industrialização do país.
O trem é um dos símbolos da modernidade. E também do movimento, da pontualidade. A cidade futurista moldada pela máquina. São Paulo perturba, oprime, provoca perplexidade. Ali nada se fixa. Tudo é passageiro. Nada permanece. Mas talvez por ter esse jeito de viver tão apressado e eletrizante, em que tudo muda na velocidade de um supersônico, é que São Paulo seja tão diligente com seu passado. Basta ver seus monumentos e a qualidade de seus museus: eles estão por toda parte. Sempre à espera do novo, São Paulo nunca descuida do que foi.
Maior cidade da América Latina, metrópole globalizada, suas enormes avenidas recortam um horizonte quase infinito de fábricas, edifícios e formigueiros humanos. Uma prosperidade que se manifesta na opulência de sua arquitetura, na excelência de suas galerias de arte, em seus belos parques e jardins, nos seus teatros, cinemas, restaurantes e bares.
No entanto, como tudo tem o seu reverso, a riqueza de São Paulo convive em permanente contraste com a pobreza de seus bairros distantes, com a miséria de suas periferias. A exclusão social é ainda uma de suas marcas. Ela está inscrita nas praças públicas, nos prédios abandonados, na população desamparada e sem moradia. Igualmente triste é a situação de seus rios: “Aqui jazem o Tietê, o Anhangabaú e o Tamanduateí”, poderiam dizer seus epitáfios.
Em São Paulo, como diz o samba, “o que tinha de ser já era”. Frenética, buliçosa, febril, uma cidade de vida vertiginosa. Este é o seu ethos, sua razão de existir. A língua que se fala em São Paulo é o idioma da mudança.
As bateias revolvem o cascalho sobre o correr das águas do ribeirão. Foram mais de duzentos anos de espera, mas enfim ele brotou nos leitos dos rios, quase à flor da terra, e depois nas encostas dos morros e profundezas das fendas rochosas. O ouro abriu picadas no mato, formou povoados, fundou cidades pelo caminho. Congonhas, Ouro Preto, Mariana. Prados, Tiradentes, São João del-Rei.
Nas igrejas, os sinos marcam a passagem do tempo e a comunicação entre os homens. Elas inundam a paisagem, parecem brotar do chão. O ouro reluz no teto das naves, no esplendor dos altares, nas imagens dos anjos e dos santos, na decoração dos oratórios.
A religião importa o barroco da Europa e ele se faz brasileiro nas Gerais. Razão e fé, céu e inferno, conflitos transmutados em formas originais. O barroco é detalhista, exagerado, ornamental. Linhas e cores inusitadas, luz e sombras retorcidas, num jogo de movimentos carregados de emoção. Ele explora uma arquitetura rebuscada e sensual. Envereda pela escultura e a pintura, ganha a literatura, ecoa na música que se ouve nos templos coloniais. Aleijadinho, Mestre Ataíde, gênios das formas e da cor. Da pintura e do entalhe consagrados, da arte feita em madeira, argamassa e pedra-sabão.
Nas minas, vidas eram ceifadas antes de amadurecer. Morria-se de fome, morria-se de febre, morria-se de qualquer coisa nas minas. Vida em tudo cruenta, vida em tudo terrível, vida em tudo indigna de se viver. Negros, índios, brancos e mulatos cantam, choram e labutam nas minas, fazendo do ouro a razão de sua existência, o motivo do seu padecer.
A Maria Fumaça une as cidades. Ela nos desloca no tempo e no espaço. Mostra que a poesia pode ser feita de aço, vapor e carvão.
Seu Tião Paineira, o artesão de voz grave e mãos ligeiras, fez sua vida do barro, emulando o Criador. Hoje, é lembrança doída. De consolo fica sua obra, singela, comovente e telúrica em sua sabedoria popular. Tiradentes chora por ele. É saudade que não passa e que não tem solução.
A imagem que se vê do alto é quase a mesma de séculos atrás. O presente de Minas é feito da matéria bruta e pedregosa que chega do seu passado. Do sangue e do suor de gerações. Do metal dourado e reluzente que morava nas covas fundas de suas montanhas sagradas.
Livres como deve ser, caminhamos pés descalços na terra por entre alamedas e trilhas. Acolhedor em sua beleza silenciosa, um imenso jardim nos envolve. São 486.000 m2 de área verde, 1.300 espécies de palmeiras, 334 espécies de orquídeas, mais de 2.000 de outras plantas. E misturada a tudo isso, a arte. Arte que nos fala do mundo e das coisas, das dores e prazeres da vida, daquilo que acontece ou imóvel permanece. Estamos em Inhotim por causa dela.
Inhotim, encontro de Cerrado e Mata Atlântica, jóia do Paraopeba, relíquia de Brumadinho, Minas Gerais. Conta-se que no século XIX um minerador inglês de nome Timothy chegou à região disposto a adquirir umas terras. Para os moradores do lugar, Mr. Timothy acabou virando senhor Tim, depois nhô Tim, e finalmente Inhotim. Não se sabe se o caso é verdadeiro, mas não importa. A história, de tão saborosa, merece mesmo ser contada.
Inhotim, “Brumadim” são palavras que, ao serem pronunciadas, já revelam sua mineiridade. O instituto nasceu da cabeça visionária de Bernardo Melo Paz, um empresário e colecionador que, aos 50 anos de idade, resolveu criar o maior museu a céu aberto do mundo. E não um museu qualquer, mas um museu no qual a arte e a natureza se juntassem em perfeita harmonia.
Em Inhotim nada é linear, preestabelecido, obrigatório. Nossa caminhada lá é intuitiva: seguimos por onde o corpo nos guia. E ele nos conduz por entre lagos, colinas e vales na direção de pavilhões, galerias e salões envidraçados. Dentro ou fora deles, um universo de esculturas, pinturas, desenhos, fotografias, filmes, vídeos e instalações nos espera. Inhotim inaugura um novo conceito de museu, onde artistas do Brasil e do mundo são levados a se expressar sobre as questões da contemporaneidade.
Inhotim é fruição. É o todo e as partes, o preto e o branco, o conteúdo e a forma, o prazer e o espanto. O belo e o novo e o grotesco das coisas. A paisagem ressignificada. A dualidade do artístico e do natural. O bronze, o aço, a madeira, a experimentação. Inhotim é criação transgressora em um labirinto de cores. É a arte por onde passo.
Inhotim é isso e muito mais.
Difícil entender, difícil explicar, difícil se situar em meio a tanta beleza. O desconhecido que assombra, os segredos impenetráveis. A esfinge à espera de ser decifrada. Pois assim é a Amazônia: imensa, vasta, exuberante, profunda, insondável. Sua floresta, seus rios, os povos que a habitam, tudo ali é múltiplo, abundante, exagerado.
Mas em meio a tanta grandeza, há também um tempo para o simples, o delicado. Delicadeza que se vê na doçura dos botos; no encontro das águas que separam o Rio Negro do Solimões; nas praias de areia branca que, na época de baixa dos rios, surgem graciosas iluminando a paisagem. Isso sem mencionar os igarapés, braços longos e estreitos de rio ou canal a percorrer as entranhas das matas. Na Amazônia, eles são muitos, mas navegar por suas águas só de canoa ou em pequenos barcos.
Singeleza igual iremos encontrar no artesanato, na dança, nos costumes e na culinária dos índios, ou nas lendas e mitos narrados por um cacique orgulhoso do seu passado. Olhares atentos para tudo, despidos de preconceitos, percorremos cada povo, cada lugar, cada cultura com o mesmo espírito da criança a descobrir um mundo de novidades.
Guiados pelo morador da comunidade ribeirinha ou pelo índio sabedor dos segredos da mata, rasgamos a imensa floresta ansiosos por conhecer seus seres vivos, a composição de seu solo, os poderes de suas plantas medicinais. Quando foi que nos demos conta de tanta riqueza e diversidade? Todo esse espetáculo natural, todo esse manancial de vida precisa urgentemente ser conservado. Essa é uma luta sem fim, mas na Amazônia há gente disposta e com coragem para levá-la adiante.
Localizada às margens do Rio Negro, Manaus, a capital do estado do Amazonas, apresenta de forma abundante tudo o que a Amazônia produz. Desde os frutos, ervas e peixes que se compram no mercado municipal, até a cultura que se vê no seu formidável Teatro Amazonas, filho dileto do ciclo da borracha. A Paris dos Trópicos, como um dia foi chamada, sintetiza a alma e o jeito de ser do amazonense. De um povo que um dia foi capaz de gerar uma cidade no seio profundo da maior floresta tropical do planeta. É também em Manaus que fica o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Inpa, maior centro de estudos da região.
A vastidão amazônica deveria nos ensinar a todos a ser mais complacentes e humildes. Pois diante dela o chamado homem civilizado é apenas um pequeno ponto no escuro. Por mais que nos esforcemos em compreendê-la, em controlá-la, em submetê-la a nossas vontades e desígnios, a Amazônia sempre nos escapa. Seres limitados que somos, mal conseguimos ferir a superfície que envolve o infinito dos seus mistérios.
Pernambuco é oceano, multidão. Da aridez de seus sertões aos canaviais da Zona da Mata, da solidão agreste à beleza de seu litoral, um mar de histórias para contar, uma cultura para se admirar. Uma história às vezes doce, como o açúcar de seus engenhos; outras tantas amarga e cruenta, como suas revoluções. Pernambuco é o Carnaval, são as festas de junho, é Paixão de Cristo em Nova Jerusalém. É o paraíso de Porto de Galinhas. É Caruaru e é Petrolina. É Recife e também Olinda. Cultura ameríndia, negra e europeia. Tudo muito brasileiro. Tudo muito misturado. Tudo muito singular.
Olinda e Recife, glórias de Pernambuco. Recife e Olinda, amores primevos dos brasileiros. No passado, elas cultivaram disputas, rivalidades. Bobagem. Como briga de irmãos, um dia passa. Passou… Hoje, unidas pelo frevo, pela força de seus maracatus e cirandas, pelo improviso de seus cantadores e repentistas, pela riqueza de sua culinária, pela pujança de seus carnavais, as duas cidades se renovam preservando suas tradições. Olinda e Recife, tão perto, tão diferentes, tão iguais.
Dizem que todo pernambucano é orgulhoso de si, de sua terra e de sua história. Motivos para isso não faltam. Pois foi em Pernambuco que surgiu o primeiro poema da literatura brasileira, o primeiro tratado brasileiro de história natural, a primeira faculdade de direito do país. É lá também que fica o Galo da Madrugada, o maior bloco de Carnaval do mundo (há controvérsias), e a primeira sinagoga das Américas. Isso sem mencionar o fato de que o estado nos deu Bandeira, Gonzaga, João Cabral, Nabuco, Freyre, Brennand e tantos outros heróis inesquecíveis. Todos eles pernambucanos – inclusive Ariano Suassuna, que nasceu na Paraíba – até dizer chega.
Pernambuco é no superlativo. Lá, a cultura tem a força de tradições ancestrais. Brasileira em sua essência, nordestina em sua alma, a um só tempo única e universal.
Seu nome de batismo é São Salvador da Bahia de Todos os Santos, mas vocês podem chamá-la de Salvador ou, se preferirem, de Cidade da Bahia. Ela é a cidade-fortaleza de Tomé de Souza, a Roma Negra dos trópicos, a primeira capital do Brasil. Abençoada por Deus e sob a proteção de Senhor do Bonfim.
Salvador de todos os santos, de todos os encantos, das lendas do Abaeté. O Abaeté com sua lagoa escura, feito de dunas e areias brancas, onde as ganhadeiras entoam seus sambas de tempos atrás. Lá onde o vento balança o coqueiro e traz consigo canções de mar. Ah, como é bom sentir a brisa morna e preguiçosa de um fim-de-tarde-começo-de-noite nas praias de Itapuã!
Salvador de todos os ritos, de todos os mitos, dos terreiros de candomblé. Nas águas do Rio Vermelho, deposito flores para Iemanjá. Depois vou em busca do Senhor do Bonfim na Igreja da Sagrada Colina. Em todo janeiro, assisto à lavagem de suas escadarias. A fitinha que trago no braço é amarrada com três nós e cada nó carrega um pedido. Pois o padroeiro é fazedor de milagres; o padroeiro é protetor dos aflitos. No Bonfim, orixás, bispos e padres hoje convivem em harmonia. Religião afro-brasileira da Bahia.
Do Bonfim dou um pulo no Pelô para ver a Fundação Casa de Jorge Amado e o barroco banhado a ouro da Igreja e do Convento de São Francisco. No caminho, paro no tabuleiro da baiana e coloco pimenta no acarajé. No Pelourinho, a percussão é mais colorida e vibrante ao som do Olodum. Lá o sabor da comida é intenso e caloroso, como tem mesmo de ser. O artesanato pode ser simples ou sofisticado no interior de seus ateliês.
Salvador é filha do ritmo, parteira da alegria, mãe do prazer. Capoeira de mestre Bimba, sambas de roda, rodas de samba, maculelês, afoxés… O sagrado e o profano no teu Carnaval: trios elétricos, Filhos de Gandhi e Ilê Aiyê. Um jeito gingado e malemolente de enganar o sofrer.
“Você já foi à Bahia, nêga? Não? Então vá!”
Brasília nasceu de um sonho. Terra prometida e imaginária de onde jorrariam leite e mel, eldorado de riquezas e prosperidade, a ideia de sua construção atravessou os séculos. Pensada na Colônia, acalentada no Império, fez-se realidade na República. Das primeiras intenções manifestas de transferir a sede do governo para o Planalto Central, passando pelas premonições de Dom Bosco e a histórica Missão Cruls de 1893, muita coisa aconteceu. Já no século XX, a ideia amadureceu, até que Juscelino Kubitschek, eleito presidente, resolveu concretizá-la.
Do sonho de JK surgiu em 1960 a cidade moderna e planejada de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Para erguê-la em tempo recorde – foram menos de quatro anos –, trabalhadores vieram de todos os lugares. Chamados de “candangos”, eles chegaram otimistas, carregados de esperanças. Com seus braços forasteiros, levantaram Brasília do meio do nada. Uma metrópole futurista no vazio do cerrado.
A cidade cuja natureza é mediada pelo ritmo da política. Pelo poder que seduz na Praça dos Três Poderes, na Esplanada do Ministérios, nos palácios presidenciais. Poder que todos buscam nos corredores do Congresso Nacional, nas salas das comissões, nos plenários e sessões dos tribunais.
Mas por trás dos ritos e das artimanhas da política, da suntuosidade de sua arquitetura e urbanismo, existe uma cidade a pulsar. Como em qualquer outra grande metrópole do mundo, Brasília canta suas frustrações e alegrias cotidianas. Os candangos empurrados para a periferia das cidades-satélites, sua legião de jovens urbanos e politizados… A cidade do rock e do choro, da dança, do teatro, do cinema e das artes plásticas. Do lazer no Lago Paranoá, dos passeios no Parque da Cidade e no Parque Nacional, do improvável Sítio Semente, com seus sistemas agroflorestais em pleno cerrado, das trilhas ecológicas na Chapada Imperial – tudo isso faz de Brasília um lugar único, inusitado, extraordinário. Amada por uns, odiada por outros, mas nunca indiferente aos olhos de quem a conhece.
Certamente você já entrou num hipermercado, desses bem grandes que a gente vê por aí, escolheu a fruta de sua preferência, o leite para o seu café da manhã, a carne ou o frango para o seu almoço. Fazemos isso quase que diariamente, não é mesmo? São atos rotineiros, uma extensão natural do nosso dia a dia. E justamente por esse motivo você talvez nunca tenha se dedicado a pensar como aqueles alimentos foram parar ali, tão à mostra, pedindo para serem consumidos.
No Rio de Janeiro, a Região Serrana é um dos principais centros produtores que abastece a capital e outras cidades do estado. Em Nova Friburgo e Teresópolis, nos sítios e fazendas da localidade, encontramos praticamente de tudo: frutas, legumes, verduras; abelhas africanizadas que fabricam mel; cabras europeizadas que nos dão leite e queijos; gastronomia refinada. Tem até fábrica de chocolate!
O verde ali predomina. Mas também pudera: a Serra Verde Imperial é a maior provedora de hortaliças para o Rio de Janeiro. Um verdadeiro festival de alfaces, chicórias, espinafres, salsas e cebolinhas.
As velhas e as novas formas de cultivar coexistem por lá. Tem hidroponia de folhagens, agricultura familiar com uso de defensivos agrícolas, sistemas agroflorestais e modos de cultivo tradicionais. Muitas vezes, o campo bucólico dá lugar ao campo modernizado.
Por essa produção ter lugar numa região em que a natureza é um dado permanente da paisagem, há alguns princípios que nunca deveriam ser esquecidos: consciência ecológica, agroecologia, sustentabilidade, ecoturismo. Um banho de rio ou uma caminhada pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos pode ser uma boa inspiração nesse sentido.
Sem o campo não teríamos chegado até aqui. Sem o campo, a evolução humana não teria sido o que foi. Sem ele, haveria mais fome e miséria. É o campo que nos mantém vivos – também aqui na cidade.
Da Ásia, os portugueses trouxeram uma planta e a fincaram no solo fértil. Ela se adaptou tão bem ao lugar que parecia ter nascido ali. Não demorou muito e os antigos campos dos Goytacazes se transformaram num imenso canavial.
Pelas enormes planícies de suave topografia, a cana se espalhou como rastilho de pólvora. Das plantações seguiu para os engenhos e usinas e, com a força e o suor de braços escravos, virou garapa, rapadura, álcool, aguardante e açúcar. Sobretudo açúcar.
Foi um excelente negócio. Principalmente para os senhores de engenho e exportadores da região. O açúcar confundiu-se com prestígio, opulência e poder. Fez nascer ali uma próspera aristocracia rural. Mas a ganância e a sede de lucro fácil cegaram os homens para as mazelas que estavam por vir. O açúcar tinha os seus vícios – e não eram poucos.
Norte Fluminense, desde sempre contraditório e desigual! Dos trabalhadores escravizados do passado chegamos aos trabalhadores de hoje, aos sem-terra e boias-frias com seus olhares fundos e cansados e rostos cortados de sol. Jornadas de trabalho estafantes, condições subumanas de vida, estafa física e mental.
Mas não pensem que não houve resistência. Houve, há, sempre haverá. O Norte Fluminense é terra de quilombolas, de rodas de jongo à noitinha nas fazendas coloniais. Onde o tambor de caxambu faz par com o candongueiro, enquanto outros se arriscam nos passos da umbigada. O jongo é dança sagrada, veio para cá com os bantos, chegou até nós de geração em geração.
Nova riqueza, novos problemas, novos pontos de discórdia. O boom do petróleo na Bacia de Campos fez explodir a população da região. Acelerado processo de urbanização, intensificação dos fluxos migratórios, pequenas cidades que viram médias, médias cidades que viram grandes. E, diante disso, o aumento da violência, a falta de saneamento, a aceleração do custo de vida, os impactos ambientais.
Entre a cana e o petróleo, o Norte Fluminense construiu um modo de ver o mundo. Que no futuro ele deixe para trás o amargor de suas páginas tristes e seja apenas doce para o seu povo – assim como doce é o melaço que se esconde naquelas plantas robustas e esguias de seus canaviais.
Nas águas frias de seus mares, um azul diáfano e salino. Em suas praias, uma areia branca e fininha. O sol é quase todo dia. Sopra o vento Nordeste, inclemente. Das profundezas, águas carregadas de sal emergem e favorecem a fartura de seres marinhos. Ó, divina ressurgência! Não à toa a cobiça dos predadores. Não à toa a pesca primitiva e industrial. Não à toa o turismo feroz de hoje em dia.
Do alto de seus promontórios, visualizamos a ocupação do espaço, o desenho de seu litoral, imaginando como eles se formaram. Na parte baixa, de barco, adentramos os mangues; a pé, caminhamos pelas restingas. Ambos são resultado das marés e dos humores do mar. Mas quanta diferença entre eles! De textura, de cheiro, de clima, de cor, de fauna, de vegetação. É realmente infinita a riqueza dos ecossistemas brasileiros.
Fundada em 1615, Cabo Frio estendia-se por terras hoje pertencentes a Arraial do Cabo, Búzios e Macaé, ao norte, e a Saquarema e Maricá, ao sul. Depois do pau-brasil, a nova febre de riquezas foi o sal, ali presente desde sempre. Sal que fez a fortuna de muitos, que erigiu cidades e vilas, que alimentou a escravidão. Valioso sal, vítima do contrabando e do monopólio real.
Nas salinas de Araruama, Cabo Frio e São Pedro da Aldeia, sob a ação conjugada do sol e do vento, a água evapora e de seus tanques rasos ele surge, grosso ainda, em forma cristalizada. Da produção artesanal ao boom industrial do século XX, elas contavam mais de cem. Depois o preço caiu, os lucros cessaram, e o sal foi saindo de cena. Não de todo, pois ainda podemos avistá-lo por lá.
Foi então que à pesca e ao turismo, pendores naturais da região, outras vocações vieram se juntar. Seja numa fábrica de gelo, na oficina do artesão que tira beleza do ferro e da sucata, ou ainda numa casa construída a partir de entulhos em formato de flor, é da criatividade humana que se trata. Arte e labores novos, múltiplos, inusitados. A existência mais do que justificada.
Os Lagos nos falam do sol, do mar, da arte, dos bichos e das plantas. De um passado remoto com suas âncoras poderosas. Do sal da vida que é também esperança.
Ele está a meio do caminho entre as duas maiores cidades do Brasil. Do Rio até lá, como muda a paisagem! Nosso destino é a Serra da Mantiqueira, onde fica o Parque Nacional do Itatiaia. Onde o estado do Rio se encontra com Minas e o estado de São Paulo.
No começo da jornada, estamos no nível do mar. Aqui, a pressão atmosférica é alta, e a temperatura constantemente elevada. Mas o nosso caminho é quase sempre subindo. E, quanto mais alto, decaem pressão e temperatura.
Lá no alto do parque, lá no alto mesmo, faz um frio danado. Às vezes, no inverno, chega mesmo a gear. Com sorte, até a neve pode dar as caras. Lá em cima o ar é mais leve, menos denso, rarefeito. Por que será?
O barômetro nos permite medir pressão e altitude. É um instrumento utilizado pelos cientistas. E foi inventado por um deles: o físico Evangelista Torricelli.
Já o parque foi criado por Getúlio Vargas em 1937. Nos quase 30 mil hectares do parque podemos caminhar por trilhas de Mata Atlântica e nos deixar extasiar por sua fauna e flora exuberantes. Os animais e as plantas podem ser vistos em seu habitat ou expostos em museus. Tem até bicho empalhado por lá! Tudo isso e, de quebra, se banhar na Cachoeira do Maromba ou no Lago Azul. Os caminhos podem nos levar também ao Mirante do Último Adeus, onde se tem uma visão privilegiada de toda a paisagem.
Uma das espécies nativas é a juçara, de cujo fruto se produz o juçaí, um primo-irmão do açaí. Um projeto desenvolvido na região gera renda para artesãos e trabalhadores locais, ajudando a preservar essa palmeira tão maltratada pela extração do seu palmito.
Tal como a natureza que ele protege, fazemos votos que a vida do Parque Nacional do Itatiaia seja longa e venturosa. Porque só assim serão eternos o frio de suas águas, o cantar dos seus pássaros, o ar puro de suas montanhas.
Você já parou para espiar o céu à noite? Notou como ele fica bonito recheado de pontinhos luminosos? É que na escuridão da noite as estrelas se revelam. E com elas os planetas, as galáxias e tudo o mais que existir no firmamento.
E o fundo do mar à noite, o que sabemos dele? Como será que se comportam os seres marinhos depois que o Sol se esconde?
São muitos os mistérios que rondam céus e mares noturnos. Mas você sabia que existe uma forma de conhecermos um pouco mais sobre eles? Que tal passar uma noite no Planetário da Gávea e outra no Aquário Marinho do Rio de Janeiro? É isso mesmo! Dormindo literalmente com as estrelas e ao abrigo de peixes, raias e tubarões – sob a proteção dos deuses planetários e de Poseidon, senhor dos mares e dos oceanos.
O terreno é arenoso e salino. A vegetação, rude, rasteira, frequentemente espinhosa. Estamos na praia, caminhamos pela restinga. Onde florescem as açucenas, as bromélias, os cactos. Onde o maria-farinha reina quase absoluto e as tartarugas realizam suas desovas.
Coisa diversa é o manguezal. Maleável, lamacento, salobro, o mangue é ambiente de transição entre a terra e o mar. Em seus terrenos alagados e gelatinosos vicejam a avicênia, a rizófora e o caranguejo chama-maré. Berçário natural de várias espécies animais, para lá acorrem os que vão em busca de alimento, sossego e condições ideais de reprodução.
E então chegamos à floresta. A natureza plena e exuberante. As árvores, as plantas, os bichos, tudo é mais nesse lugar. Coisa que espanta e deslumbra.
Em cada ecossistema formas variadas de vida. E de matéria que não é vida. Lá onde cada ser é único e todos vivem em contínua interação. Onde o perecimento de uns é condição da sobrevivência de outros. Vida e morte num eterno sem fim.
Eles chegaram em caminhões há mais de 70 anos. Traziam seus braços para a construção civil, sua cultura e sua história. Do encontro com parentes e conterrâneos que aqui já estavam, inventaram um espaço de convivência. Modo de abrandar a saudade e de não esquecer de onde vinham.
Logo o povo a chamou de Feira dos Nordestinos. Tinha de tudo lá: xilogravura, literatura de cordel, xote, baião e xaxado. Isso sem falar no forró. Até troca de cartas se fazia ali! Ah, e comidas de todo tipo: tapioca, beiju, feijão de corda; baião de dois, sarapatel, carne de sol; o delicioso jabá com jerimum. Uma profusão de ritmos, cores e alegria.
Hoje ela está lá, reformada, mas com o mesmo espírito de antes. Fica no Campo de São Cristóvão. É logo ali, quase ao alcance das mãos. Um passeio pelo Nordeste sem sair do Rio de Janeiro.
A metrópole e sua gente, seus maciços e paisagens. A urbe em sua diversidade. De perto podemos tocá-la, cheirá-la, degustá-la.
Um fiel ora aos pés de Nossa Senhora da Penha; um comerciante faz seu preço no mercado municipal; um trabalhador anda apressado. O pescador grita os produtos do dia num arrabalde distante da cidade. Parece que estamos em outro lugar, mas não: é o mesmo Rio, só que em outro compasso.
Vista do alto, a cidade revela-se ainda mais plural e cheia de contrastes. Zona Norte, Zona Sul, Zona Oeste; pobreza, luxo e riqueza. Os trens que vêm e que vão; avenidas que rasgam o tecido urbano sem piedade. Vazios convivem com áreas de intensa ocupação; baixadas, praias e lagoas disputam o espaço com indústrias e regiões de proteção ambiental.
Assim é o Rio. Ele pode ser feio, pode ser belo, injusto ou acolhedor. Depende do ângulo em que o vemos. Seja como for, não há como discordar de quem primeiro um dia o chamou Cidade Maravilhosa.
No início eram só os índios, que deram o nome do lugar: Paraty – “peixe de rio”, ou “viveiro de peixes’, em tupi. Mais tarde, foi a vez dos portugueses, até que em pouco tempo fundou-se uma vila. A Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty.
Do continente africano, escravizados, chegaram os negros. Alguns refugiaram-se em quilombos, mantiveram acesas suas crenças, suas técnicas tradicionais de trabalho, a luta pelo reconhecimento de seu território. Estão lá até hoje. Resistindo.
Porto estratégico, entreposto comercial, Paraty conheceu o ouro, a riqueza abundante. A cidade fortificada, sob a proteção de seus templos. Por suas esquinas e fachadas, vestígios da maçonaria. No seu centro histórico de ruas e vielas irregulares, um delicado conjunto arquitetônico destaca-se pela harmonia do seu traçado. Comovente e belo em sua simplicidade colonial.
Junto com a riqueza, o ouro trouxe também um caminho. Ligava Paraty às Gerais. Por ele passavam os tropeiros com suas cargas preciosas e promessas de felicidade. Inicialmente construído com pedras retiradas do leito dos rios, foi depois reerguido com extratos de rochas subtraídas das encostas da exuberante mata tropical que o circundava. Ainda hoje é possível caminhar por ali e conhecer um pouco do ambiente em que viviam os homens daquele tempo passado.
Da presença indígena, Paraty herdou a produção artesanal de farinha e algumas comunidades remanescentes. Incorporou seu artesanato, sua arte, sua dança… Seu jeito.
Assim como a farinha, artesanal é a fabricação da cachaça que se bebe por lá. Aliás, que sempre se bebeu. Afinal, a pinga faz parte do dia a dia dos paratienses desde o século XVII. Maior produtor da aguardente nos períodos colonial e imperial, Paraty virou sinônimo de cachaça. E não foi por outro motivo que seu nome foi parar num samba de Assis Valente.
Guardiã de sua memória, orgulhosa do seu presente, Paraty nos acolhe a todos enquanto espera o futuro. No passado, indígenas, europeus, africanos. Hoje, gringos e brasileiros de todos os cantos. Que sejam sempre bem-vindos.
A ilha é de fato extensa e faz jus ao nome: Ilha Grande ou Ipaum Guaçu, como diziam os tamoios, os primeiros que ali chegaram. Seus 193 km2 contam histórias de luta, cobiça, sofrimento, prazer e dominação. Os estrangeiros sempre frequentaram a região – nem sempre com boas intenções.
Tamoios e franceses, portugueses e tupiniquins, corsários, contrabandistas e saqueadores, muitos pelejaram por suas terras, almejaram suas riquezas, sonharam com suas belezas sem fim. Pois a Ilha Grande é mesmo um imenso santuário natural. A vegetação ali é viçosa, exuberante; o relevo, acidentado e montanhoso. Já o litoral é formado por um sem-número de penínsulas e enseadas. Lá temos mangue, restinga e floresta tropical.
Só de praias são mais de cem, algumas mansas e silenciosas; outras, agitadas e estrondosas. Passaterra, Aventureiro, Lagoa Azul, Lopes Mendes, a Praia Preta de areias monazíticas, cada qual mais bonita que a outra, difícil até de escolher. Em épocas de bonança, floresceram a cultura da cana e depois a do café. Mas Ipaum Guaçu foi também uma das principais rotas do comércio de escravos do país. Permaneceu assim até a Abolição.
Se sustentabilidade é a palavra de ordem, turismo, piscicultura, ostreicultura, permacultura devem caminhar juntos, fazendo da ilha um lugar ainda mais conhecido, produtivo e valorizado por todos..
Na Enseada do Abraão fica o principal vilarejo da localidade. Ali vivem hoje perto de 3.000 moradores. Em algumas épocas do ano, o número de visitantes chega a superar o de habitantes da ilha. Da comunhão entre eles dependem o futuro e a sobrevivência da região.
Subir a serra do Mar, descer o Paraíba, atravessar a Mantiqueira. O caminho era demorado e difícil, mas os tropeiros, homens corajosos, sabiam por que estavam ali. Eles carregavam mantimentos, mercadorias diversas, e aquilo que a todos atraía: o ouro das Minas Gerais. Parecia que o destino do Vale era ser apenas um caminho. Caminho do Ouro, é verdade; porém apenas um caminho.
Mas um dia os tempos mudaram e um outro tipo de ouro apareceu por lá. E, dessa vez, não foi só de passagem. Era o ouro verde africano, que, depois de conquistar Ásia e Europa, veio contar os seus feitos na América. No Brasil, ele entrou pelo Norte, desceu pela Bahia, aclimatou-se no Sudeste.
Generoso, o Vale ofereceu suas colinas para que o novo hóspede fizesse sua morada. Não houve terras em que ele se sentisse mais à vontade. Sem cerimônia, o café então cobriu os morros do Vale. Das plantações nasceram os casarões, as estradas de ferro, o apogeu da nobreza. De repente, a região se viu invadida por uma legião de barões, viscondes e marqueses. Eles viraram os donos do lugar. Do lugar, não, do Brasil. Parecia que o destino do Vale era ser um imenso cafezal, cercado de fausto, luxo e riqueza.
Mas, não. Para se estabelecer, o café precisou se sobrepor à bravura dos índios, destruiu quase toda a mata tropical da região, aniquilou os pequenos roceiros. Como se não bastasse, ainda fez jorrar muito sangue negro. No contraste entre casa grande e senzala, a alma de uma nação que se descobria.
Os caminhos de agora levam à indústria e ao turismo. Cidades fantasmas dão lugar a cidades forjadas na força do aço e da eletricidade que brota do Paraíba. No acerto de contas com seu passado, o Vale renasce e se moderniza. Da história tira as lições que o fazem prosseguir.
Petrópolis, a cidade de Pedro. A cidade dos colonos e dos imperadores. Ela fica na Serra do Mar, no trecho que os antigos batizaram de Serra da Estrela. Um pouquinho da Europa num recanto do Rio.
No início integrava o Caminho Novo do Ouro. Um dia Dom Pedro I esteve por lá, gostou do clima e adquiriu uma propriedade na região. Era a fazenda do Córrego Seco. Ideal para fugir do calor e das epidemias que castigavam a capital. Foi o começo de tudo.
E uma cidade com um passado tão rico teria mesmo de ter um museu à altura de suas tradições. Como quase tudo em Petrópolis, ele remete aos tempos da Monarquia. Até no nome, pois se chama Museu Imperial!
Uma visita a seu interior nos permite mergulhar no ambiente em que residia a família real e conhecer os hábitos e costumes de um modo de vida já tão distante de nós. À noite, um baile da realeza completa o programa. Pronto: estamos em pleno século XIX! A imaginação humana é mesmo surpreendente.
Se quiséssemos poderíamos ficar aqui listando a infinidade de atrativos que Petrópolis tem a oferecer. E isso sem mencionar suas cervejarias, o comércio de roupas da famosa Rua Tereza, ou ainda sua promissora área rural, onde são cultivados produtos agrícolas orgânicos e agroflorestais.
A cidade cresceu, novos homens e mulheres ali chegaram, e com eles o progresso e a modernização. Novos e antigos moradores estão lá hoje, agorinha mesmo, escrevendo a história do lugar. Aliás, como sempre fizeram. Desde o tempo dos reis.
Do passado mais remoto ao universo contemporâneo das tecnologias digitais, das profundezas do mar aos silêncios do espaço sideral, da arte à ciência, da arquitetura às comunicações: há um Rio de cultura que percorre os museus da cidade. Da cidade e de seus arredores.
A lista é longa: AquaRio, Museu da Vida, Museu Nacional, Museu do Amanhã… Praticamente não há assunto sobre o qual os museus fluminenses não tenham algo a dizer. A dizer e a preservar, a pesquisar, a cuidar com amor.
São múmias, canhões, dinossauros; sarcófagos, liteiras, brasões; fósseis, naus, aviões; obras de arte. Objetos antigos e raros. Guardiães do tempo e do espaço. Frutos da natureza e do engenho humano.
Na Antiguidade, a palavra museu queria designar o templo ou morada das Musas, filhas de Zeus e da deusa Mnemosine, a personificação da Memória.
Pois agora você já sabe: toda vez que visitar um museu lembre-se da deusa grega e de quão importante é a Memória – para saber quem somos e de como chegamos até aqui.
Eram homens e mulheres de pele negra. Capturados à força no continente africano, aqui chegavam depois de longa e desumana travessia. Nos acostumamos a chamá-los de “escravos”, mas não deveríamos. Mais correto seria dizer “escravizados”: expressa melhor a dominação a que eram submetidos.
No Rio de Janeiro do século XIX, construiu-se um cais exclusivamente para recebê-los. Batizaram-no de Cais do Valongo. Muitos não resistiam e ali mesmo morriam. Eram enterrados nus, à flor da terra, como bichos.
Um dia a escravidão foi extinta, a cidade se modernizou e o Valongo desapareceu sob o ribombar das picaretas. O cativeiro dos negros tornou-se uma mancha a ser esquecida. Até um jardim foi construído com esse objetivo.
Chegou então o novo milênio e uma nova reforma no porto fez ressurgir o Valongo. Junto com o Cemitério dos Pretos Novos, a Pedra do Sal e outros sítios históricos, ele compõe hoje a Pequena África do Rio de Janeiro.
A palavra de ordem agora é outra: Lembrar! Lembrar! Lembrar!
Para que não se repita.
Havia o medo do desconhecido. Medo dos invasores, dos ataques dos nativos, dos corsários que cruzavam o oceano. Medo de que roubados fossem os tesouros que a baía escondia. Era preciso proteger-se e eles ergueram fortificações e igrejas. Na barra da Guanabara, São João e Santa Cruz. Fortalezas que se queriam inexpugnáveis. Cada uma de um lado. Uma defronte a outra. Quase em linha reta.
No sopé do morro Cara de Cão, eles fundaram a cidade. Depois a levaram baía adentro, até chegar ao Descanso – na verdade um outro morro, depois chamado de Castelo. Ali, a Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso e a Ladeira da Misericórdia. O morro já não existe mais, mas a igreja ainda está lá, com seus retábulos e púlpito maneiristas, seus altares em estilo rococó. A ladeira… Bem, da ladeira só restou um pedaço. Dizem que ao subi-la chegamos a lugar nenhum. Praticamente esquecida, ela no entanto ainda sobrevive, ligando a memória dos cariocas ao que um dia foi o coração da cidade. Aguardando pacientemente pela misericórdia dos homens.